quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A Loucura



A Loucura 2
Helena Kessler e Débora Augustin


Foucault, na História da Loucura, faz uma análise das modificações dos discursos sobre loucura através do tempo. Segundo ele, esse conceito já teve inúmeras interpretações, mas foi no século XVII que sofreu uma grande transformação. Até o século XVII, a imagem que se tinha da loucura era sua representação medieval de algo místico, desconhecido, considerado o lugar imaginário da passagem da vida à morte. Ao mesmo tempo, convivia-se com o chamado “nau dos loucos”, navios que carregavam loucos para outras cidades em busca da razão. Quando eram acolhidos e mantidos pelas outras cidades, eram levados para a prisão; outros eram chicoteados publicamente e enxotados. A partir desse século, passou-se a definir a loucura através de uma separação vertical entre a razão e a desrazão: ela constitui, portanto, não mais como aquela zona indeterminada que daria acesso às forças do desconhecido, mas como o Outro da razão segundo o discurso da própria razão. Segundo Brito e Catrib (2004), contemporaneamente, ocorre um grande esforço visando a distinguir o que é da ordem da loucura, conceito do senso comum e categoria sócio-antropológica, e o que é da ordem da doença mental, categoria psicológica psiquiátrica. Sugere-se que o primeiro se refere às visões de mundo e comportamentos que uma sociedade considera fora da imagem ideal que esta tem de si, enquanto o segundo relaciona-se com a formulação técnico-científica de um estado de sofrimento e perturbação gerador de variados níveis de inabilidades sociais. Foucault tem como objetivo, então, retratar a história do poder da razão sobre a desrazão, justificado pela competência exercida sobre a ignorância, corrigindo os erros da normalidade (alucinações, ilusões, fantasmas) e se impondo à desordem e ao desvio. Assim, o autor acaba por utilizar a figura do asilo como paradigma geral da análise das relações de poder na sociedade até o começo dos anos 70. Depois disso, passa-se para uma outra formulação do poder, caracterizada pelo abandono relativo do tema da loucura em proveito do tema da medicalização (do controle como medicina social).

Loucura no cotidiano Refletindo sob a ótica de Brito e Catrib, a loucura cotidiana poderia ser caracterizada de acordo com a visão de mundo e o comportamento de cada um dentro de uma sociedade. Popularmente, em músicas, em poesias e no senso comum, louco é aquele que tem atitudes consideradas fora do padrão da sociedade, seja porque perdeu a razão, seja porque adota um comportamento diferente do que é costume. Pensando dessa maneira, aqueles que, num momento de raiva, perdem o juízo e passam a agir impulsivamente e os que, numa paixão intensa, fazem coisas sem pensar nas conseqüências poderiam ser enquadrados no perfil do louco. Uma atitude espontânea, impensada, pode ser considerada loucura. Da mesma forma, pessoas que trabalham demais, vistas por quem acredita que o trabalho não é tudo, são loucas. Quem adota uma atitude diferente do padrão, tendo valores opostos ao da maioria, também é taxado de louco. Percebe-se assim que, dependendo do olhar com que se observa, a loucura pode estar presente em qualquer situação, da mais corriqueira à mais imprevista.


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